A HISTORIOGRAFIA MUSICAL BRASILEIRA COMO SUPORTE PARA PENSAR A MUSICOLOGIA NA CONTEMPORANEIDADE
BRAZILIAN MUSICAL HISTORIOGRAPHY AS SUPPORT TO THINK MUSICOLOGY IN CONTEMPORANEITY
DATA / DATE: 14 a 18 de novembro de 2023 / 14-18 November 2023
E-MAIL PARA CONTATO / E-mail for contact: abmusicologia@gmail.com
Chamada de trabalhos
I - Apresentação / overview
O IV Congresso da Associação Brasileira de Musicologia (ABMUS) tem como finalidade estimular reflexões sobre os caminhos plurais da musicologia e ampliar o intercâmbio entre centros de estudos, construindo e divulgando a produção intelectual no campo musicológico no âmbito nacional e internacional.
Na tradição historiográfica musical brasileira há um corpo de textos, as Histórias da Música Brasileira/no Brasil, que historicizam as práticas, contextos sociais, instituições e agentes da cena musical nacional, caracterizadas por um não rompimento com paradigmas das histórias ocidentais da música. No entanto, destas histórias da música, como a brasileira, além dos fatos positivos, extraem-se particularidades constituídas não só pelas idiossincrasias locais, mas sobretudo em como estas se relacionam com os projetos civilizatórios expondo-as a relações de dependência a plataformas epistemológicas assimiladas nos alinhamentos Norte-Sul da ocidentalidade. Desta forma, constroem-se os caminhos da patrimonialização de bens culturais através da organização de acervos e a legitimação de documentos históricos, de forma muito próxima ao paradigma historiográfico do dito Antigo Regime anterior ao advento da Escola dos Anais. O resultado dessa postura positivista foi uma prática historicista que mal se libertou da ideia de discutir a música no Brasil a partir de um cânone decorrente das grandes personalidades e de suas obras.
Porém, além da formação do cânone, há o que não é sistematizado, ou seja, os processos de apagamentos e memoricídios nos quais se projetam as hegemonias discursivas da sociedade dominante. Em síntese, é neste espaço entre o dito e o não dito que as estruturas enunciativas do historiografar passam a constituir e a definir a territorialidade da nossa musicologia, incluindo o nosso lugar no sistema-mundo. Para tanto, perscrutar a musicologia na percepção dos movimentos hegemônicos, assim como dos movimentos “esquecidos” ou “velados” torna-se um exercício cíclico. Este compromisso requer-nos confrontar a historiografia na percepção dos discursos dominantes, mas também compreender as novas epistemologias que refletem sobre a cena musical a partir das territorialidades que emergem de nossa realidade geográfica-cultural de profunda diversidade, inclusive as performatividades e corporalidades não normativas, decolonizadas dos próprios paradigmas usados tradicionalmente em uma musicologia pouco atenta a práticas cotidianas e suas realidades discretas. Neste campo, devemos considerar questões contemporâneas que rompam a cadeia de um lócus elaborativo das dominâncias, assim como dos métodos de investigação e divulgação de nossas pesquisas. É um ambiente para pensar os lugares silenciados ou como a música se dá nas territorialidades informacionais que mudaram, nas últimas décadas, os padrões de produção, circulação, escuta e consumo da música. Da mesma forma, é um espaço para equacionar as questões identitárias, no sentido de melhor posicionar a musicologia para dialogar com as demandas de expressão de gênero, étnico-raciais e condições socioeconômicas, tanto artísticas como de engajamento sociopolítico.
Desafia-se assim a uma prática musicológica que se imponha uma renovação de seus enfoques de forma crítica e radical, inclusive a não interdição da criação e performance como formas de problematização da cena musical, emancipando o objeto musical da mediação escrita. Diante disso, nesta edição convidamos a comunidade estudiosa da música a pensar a historiografia musical brasileira numa perspectiva de suas hegemonias e contra-hegemonias, propondo discutir os modelos e o pensamento historiográfico adotado na produção de discursos locais, regionais e nacionais; dos métodos e entrelaçamentos interdisciplinares; dos impactos dos ambientes de escuta atuais; dos processos críticos numa era de realidades ampliadas e dissolução da autoridade acadêmica; das novas epistemologias de pesquisa; e, o papel do musicólogo neste processo, no qual a construção de narrativas historiográficas demandam atenção às pressões ideológicas e/ou filosófico-estruturais do presente. Por fim, pensar o fazer musicológico no que tange os planos de profissionalização na superação de modelos, e como exige acuidade crítica e posicionamento ético diante dos desafios contemporâneos.
The VI Congress of Brazilian Musicological Association (ABMUS) aims to stimulate thoughts about the plural pathways of musicology today, as well as to foster the exchange between research centers, structuring and disseminating the intellectual production related to the musicological field at national and international levels.
n Brazilian music historiographic tradition there is a body of texts, the Histories of Brazilian Music or Music In Brazil, which historicize the practices, social contexts, institutions, and agents of national music scenes, characterized by a non-disruption from paradigms of western music histories. However, from these Music Histories, such as the Brazilian one, in addition to the positive facts, one extracts particularities constituted not only by local idiosyncrasies but, above all, in how these relate to the civilizing projects exposing them to relations of dependency to epistemological platforms assimilated in North-South alignments within Westernism. Thus, the paths to the patrimonialization of cultural goods are constructed through the organization of collections and legitimation of historical documents, closely assimilated to the historiographical paradigm of the so-called Ancient Regime prior to the advent of the École des Annales. The result of this positivist stance was a historicizing practice that barely freed itself from the idea of discussing music in Brazil from a canon stemming from the great personalities and their works.
However, in addition to the formation of the canon, there is what is not systematized, i.e., the processes of erasures and memoricides in which the discursive hegemonies of the dominant society are projected. In short, it is within this space between the said and the unsaid that the enunciative structures of historiographical practice begin to constitute and define the territoriality of our musicology, including our place in the world-system. In so exploring musicology, perceptive to hegemonic movements as well as to “forgotten” or “veiled” movements, becomes a cyclical exercise. This commitment requires us to confront historiography in the perception of dominant discourses, but also to understand new epistemologies that consider the territorialities of musical scenes emerging from our profoundly diverse geographical-cultural reality, including the non-normative performances and corporealities, decolonized from paradigms traditionally used in a musicology less attentive to everyday practices and their discrete realities. In this field, we should consider contemporary issues that disrupt the chain of an elaborative locus of dominance, as well as investigative methods and the dissemination of our research. It is an environment for thinking about the silenced places or how music takes place in informational territorialities that have changed, in recent decades, the patterns of music production, circulation, listening and consumption. Likewise, it is a space to equate identity issues, in the sense of better positioning musicology to dialogue with the demands of gender expression, ethnic-racial and socioeconomic conditions, both artistic and of sociopolitical engagement.
One thus challenges a musicological practice that imposes itself on the renewal of its focuses critically and radically, including the non-interdiction of creation and performance as forms of problematization of the musical scene, emancipating the musical object from written mediation. Accordingly, in this edition we invite the music-studious community to think about Brazilian musical historiography from a perspective of its hegemonies and counter-hegemonies, proposing to discuss: models and historiographic thinking adopted in the production of local, regional and national discourses; interdisciplinary methods and its intertwinements; the impacts of today's listening environments; critical processes in an era of expanded realities and dissolution of academic authority; new research epistemologies; and the role of the musicologist in this process, in which the construction of historiographic narratives demand attention to the ideological and/or philosophical-structural of present-day pressures. Finally, we would also like to discuss professionalization initiatives in musicological practice aiming at the surpassing of models, and how this would require critical acuity and ethical positioning as we face contemporary challenges.
AS PROPOSTAS DEVEM ABORDAR QUESTÕES PERTINENTES AOS SEGUINTES TÓPICOS
PROPOSALS SHOULD ADDRESS ISSUES PERTAINING TO THE FOLLOWING TOPICS
- Historiografia da música como discurso local, regional e nacional
Music historiography as local, regional and national discourse - O papel do musicólogo na construção de narrativas historiográficas
The role of the musicologist in the construction of historiographical narratives - A função da documentação na construção historiográfica musical hoje
The role of documentation in musical historiographical construction today - A informação musical e seus registros como fontes historiográficas musicais e seus problemas
Musical information and its records as music historiography sources and their issues - Problemas historiográficos nos espaços luso-brasileiro e ibero-americano
Historiographical problems in Luso-Brazilian and Ibero-American spaces - A musicologia como espaço interdisciplinar para uma História das Ideias
Musicology as space for a History of Ideas - Iniciativas de profissionalização do fazer musicológico
Initiatives for the professionalization of musicological practice - A musicologia no espaço das discussões identitárias: étnico-raciais, conflitos sociais, de gênero
Musicology in the space of identity discussions: ethnic-racial, gender, social conflicts - Processos críticos numa era de realidades ampliadas e dissolução da autoridade acadêmica
Critical processes in an era of expanded realities and dissolution of academic authority
AS PROPOSTAS DEVERÃO SER ENVIADAS NO FORMATO DE RESUMOS EXPANDIDOS
PROPOSALS SHOULD BE SENT AS EXPANDED ABSTRACTS
Os resumos expandidos são propostas (com até duas laudas A4) que detalham o conhecimento com referências ao seu tema de pesquisa. No caso de submissões para painéis temáticos, incluir os nomes e breve bio de todos os participantes.
Expanded abstracts are proposals (up to two A4 pages) giving detailed knowledge with references of your research subject. For thematic panels, please include the names and brief bios of all participants.
INFORMAÇÕES GERAIS / GENERAL INFORMATION
-
Número máximo de páginas para os resumos expandidos: duas páginas, incluídas as ilustrações e referências.
Expanded abstracts cannot exceed a length of two pages, including illustrations and references. -
A aprovação dos trabalhos é de inteira responsabilidade da Comissão Científica.
The approval of the papers is the sole responsibility of the Scientific Committee. -
Autores e coautores devem se inscrever no evento até 5 de novembro de 2023, a fim de que sua participação seja incluída na Programação e no Caderno de Resumos.
Authors and coauthors must register for the event by November 5, 2023. Only then will their participation be included in the programming of the event and its Volume of Abstracts. -
Os autores das submissões aprovadas apresentarão a versão completa da sua Comunicação em até 15 minutos de maneira remota (virtual e online).
Authors of approved submissions will present the complete version of their paper in up to 15 minutes remotely (virtually and online).
DATAS IMPORTANTES / IMPORTANT DATES
Data final para submissão de artigos: 15 de outubro de 2023.
Submission deadline: 15 October 2023.
Divulgação dos artigos aceitos: 22 de outubro de 2023.
Notification of accepted papers: 22 October 2023.
Data para envio da versão final do artigo para integrar os Anais: 13 de dezembro de 2023.
Deadline for the submission of revised articles (accepted authors only): 13 December 2023.
Divulgação dos horários das comunicações: 5 de novembro de 2023.
Presentation schedule: 5 November 2023.